A arte finalização é a peneira pela qual a arte passa antes de ser produzida, é o processo de checagem, organização, padronização e liberação de um arquivo para impressão. Atualmente algumas empresas estão fazendo uso do arte-finalista também para a liberação de arquivos web, isso tem sido uma tendência no mercado estrangeiro.
O QUE CHECAR?
Quando o arquivo é entregue ao arte-finalista, esse está responsável por tornar viável a produção do que foi criado, então deverá checar: o formato, tamanhos das fontes, cores, imagens, padronização, facas especiais (caso tiver), sangria, margens de segurança e checar as orientações de fechamento do arquivo passadas pelo fornecedor.
1. FORMATO E DPIs
Sempre que for iniciar o trabalho, cheque se seu formato está de acordo com o briefing e/ou orçamento. Isso é muito simples de ser feito e não leva muito tempo, deve ser o primeiro passo, pois, imagine, terminar todas as checagens e descobrir que o formato está completamente errado? Ou até mesmo acabar liberando o arquivo nesse formato errado?
Abaixo algumas dicas para ajudar a otimizar o seu tempo:
- Para formatos até 100cm, é indicado trabalhar na escala 1:1 com as imagens em 300 dpis finais¹.
- Para formatos até 300cm, é indicado trabalhar na escala 1:1 com as imagens em 150 dpis finais ou na escala 1:2 com as imagens em 300 dpis finais¹.
- Para formatos até 700cm, é indicado trabalhar na escala 1:1 com as imagens de 70 a 100 dpis finais ou na escala 1:3 com as imagens de 210 a 300 dpis finais¹.
- Para formatos de 700 a 900cm ou mais, é indicado trabalhar na escala 1:10 com as imagens em 30 dpis finais¹ ².
¹ Se o fornecedor pedir com mais ou menos DPIs, siga as especificações dele. Caso ele não tenha dado nenhuma especificação, é indicado que entre em contato com o fornecedor para obter essas especificações e/ou explicar como você pretende fazer a liberação do arquivo.
² Os softwares tem limites de formatos que aguentam abrir, fazer um arquivo desse formato no tamanho final em primeiro lugar prejudica o seu desempenho (arquivo muito pesado e difícil de mexer devido as limitações da máquina) e em segundo lugar quando for liberado para o fornecedor o mesmo não conseguirá dar saída no material e você terá que encaminhar o material reduzido depois.
2. LEGIBILIDADE E TAMANHO DAS FONTES
A leitura é algo muito importante quando se libera um arquivo para impressão ou mesmo para web, é preciso estar sempre atento se os textos estão legíveis para qualquer pessoa. A legibilidade se dá por vários fatores, dentre eles: contraste entre a letra e o fundo, tamanho da fonte, espaçamento entre palavras, espaçamento entre linhas, caracteres por linha.
- Normalmente é adotado 6pts como redução máxima das fontes em materiais gráficos (alguns fornecedores indicam a utilização de fonte com 7 ou 8pts), porém ainda existem algumas normas e leis que especificam os tamanhos de fontes para alguns fins específicos, conforme citado abaixo:
Segundo a Lei 11.785/08, alteração do parágrafo 3º do artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990): "Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor." (ler documento completo)
A ANVISA, a CONTRAN, entre outros regulamentadores também dispõem de um série de leis para propaganda de setores específicos e determinam mensagens obrigatórias, tamanhos e família de fontes que deverão ser utilizadas. Caso não sejam seguidas, o estabelecimento pode ser penalizado por meio de multas, por medidas administrativas ou por infração.
Fora esses casos, temos as normas ABNT que terão que ser seguidas em trabalhos nos quais forem solicitadas. É importante que o profissional procure sempre se informar sobre esses assuntos para evitar problemas futuros.
- Não utilize fontes com espessura light ou bold em textos muito pequenos, a regular é sempre a melhor opção nesses casos. Fontes light se estiverem aplicadas em fundos escuros compostos nas 4 cores (CMYK) podem acabar sumindo se a impressão for de uma qualidade inferior. Fontes em bold muito pequenas podem se tornar borrões.
- Não utilize textos muito pequenos com cores compostas. É muito comum os arquivos da criação chegarem com textos minúsculos e compostos nas quatro cores, isso pode gerar um problema muito comum em impressões - sair do registro - e, consequentemente, o texto desaparecer ou ficar ilegível.
- Espaçamento entre letras: as fontes são criadas com o espaçamento considerado o ideal (fontes mais estruturadas, desenvolvidas por designers de fontes são assim, normalmente). Aumentar ou reduzir esse espaçamento não é a ação mais recomendada, mas se precisar fazer, tente reduzir no máximo em -20 (cada fonte se comporta de um jeito quando reduzido o espaçamento, atente-se aos detalhes, imprima, compare e teste até obter a melhor opção), mais do que isso com certeza comprometerá a legibilidade do texto.
- Espaçamento entre linhas: assim como grudar demais as letras em um texto gera problemas de leitura, grudar demais as linhas também. Deixe as linhas com uma folga entre elas, sem exageros, claro.
3. CORES: CMYK, RGB E CORES ESPECIAIS
O padrão CMYK [Cian, Magenta, Yellow, Key Color (Preto)] possui menos cores que o padrão RGB, mas ainda as possibilidades de combinações são ilimitadas e é essencialmente utilizado para materiais com o fim de impressão.
Já o padrão RGB (Reg, Green, Blue) é utilizado em monitores e televisores, no padrão RGB é possível alcançar mais de 16 milhões de combinações.
As Cores Especiais (Pantones ou Spot Color) são utilizadas para alcançar cores que seriam impossíveis no padrão CMYK como, por exemplo, cores fluorescentes, prata ou ouro.
Abaixo algumas dicas para materiais impressos:
- Para obter uma aparência do preto mais brilhante e denso, você precisará compor as cores no que chamamos de "calçar o preto", para isso faça uso do K 100 e do C ou M ou Y com 30% (Ex: C30 M0 Y0 K100), calce de acordo com a cor que estiver predominando mais em seu material. Utilize isso somente em fundos e áreas grandes, para textos opte por usar o preto puro (C0 M0 Y0 K100/90/80/...)
- É muito importante ressaltar que não se deve utilizar o preto 400%, ou seja, o preto obtido com 100% de todas as cores (C100 M100, Y100 K100), além de sobrecarregar o material, em textos pode gerar o problema de erro de registro.
- Quando converter uma imagem do RGB para o CMYK você notará que a sua imagem ficará menos viva e algumas cores poderão ficar bem diferentes do que eram, como no exemplo a seguir. Note que as cores antes tão vivas, ficaram levemente apagadas, caso mudem demais será necessário ajustar a imagem CMYK utilizando recursos do Photoshop.
4. QUALIDADE DAS IMAGENS
A qualidade final das imagens deve ser trabalhada conforme as especificações do item 1 (Formatos e DPIs) e convertidas para CMYK conforme o item 3 (Cores: CMYK, RGB e Cores Especiais).
Lembre-se os DPIs não são a única coisa a ser avaliada quando checar uma imagem, você deverá ver se a qualidade está condizente: existem casos em que a imagem recebida foi ampliada indevidamente e ela terá um aspecto próximo a imagens tiradas em câmeras de celular inferiores, muito pixeladas, sem nitidez e outros problemas.
5. PADRONIZAÇÃO
A padronização de materiais garante a consistência de uma marca. Sempre cheque se a marca em questão possui manual de marcas³, se não tiver, padronize conforme materiais que já foram produzidos anteriormente. Caso tenha, use os materiais que já foram produzidos como referência em conjunto com o manual de marcas.
³ Manual de Marcas: é um guia com recomendações, especificações e normas para a utilização de uma marca nos meios online e offline. Essas normas incluem: área de proteção da marca, cores, aplicações do logo em diversos fundos (coloridos ou fotográficos), redução máxima do logo, tipografia a ser usada, usos impróprios, etc.
6. FACA ESPECIAL
Alguns materiais tem cortes especiais como: envelopes, caixas, móbiles, tags, etc. Essas facas podem ser fornecidas por quem produzirá o material ou deverão ser desenhadas pelo próprio arte-finalista. Em ambos os casos, será importante:
- Aplicar a faca acima da arte com a cor em Spot Color e renomeada como "Faca" ou qualquer outro nome que referencie que aquela cor se trata à faca.
- Feito isso, selecione a faca e deixe ativa a opção: overprint. Para que isso? Quando você ativar o overprint no seu arquivo parecerá que não mudou nada, mas quando o fornecedor desativar a Spot Color "Faca" do seu arquivo, não gerará um filete branco no lugar da faca (esse filete sai na impressão). Abaixo um exemplo:
Acima a visualização normal do arquivo
Acima a visualização do arquivo ao esconder a Spot Color com overprint aplicado
Acima a visualização do arquivo ao esconder a Spot Color sem overprint aplicado
Quando liberar arquivos você tem a opção de encaminhar a faca em um arquivo separado ou aplicada sobre a arte. Caso opte por liberar o arquivo com a faca aplicada sobre a arte, não esqueça do detalhe do overprint e do spot color.
7. SANGRIA E MARGENS DE SEGURANÇA
A sangria é a arte que ultrapassa a área de corte do material, ela é necessária pois, após impresso, o material é refilado e o corte pode ter uma variação de até 3mm. A sangria deve ter de 3 a 5mm no mínimo de cada lado do arquivo ou seguir especificações do fornecedor.
Quanto a margem de segurança, ela é necessária pelo mesmo problema de refile. Nenhuma informação importante como logos e textos deve ir além da margem de segurança. A margem deve ser de 5 a 8mm no mínimo de cada lado do arquivo ou conforme especificações do fornecedor.
8. LIBERAÇÃO DO ARQUIVO
A liberação do arquivo finalizado se dá de 2 formas mais comuns:
- Arquivo aberto (PSD, AI, InDesign, etc) com as fontes em curvas.
- Arquivo fechado (PDF em alta) com as fontes em curvas.
Obs.: O ideal é sempre liberar os materiais com as fontes em curvas para evitar problemas de incompatibilidade de fontes entre você e o fornecedor.
9. CUIDADOS COM O ARQUIVO
Organizar o seu trabalho poupa tempo. Então certifique-se de que:
- As fotos e cores de fundo estejam em layers separadas dos textos e logos.
- Renomeei as layers dos seus arquivos, outras pessoas podem precisar mexer neles.
- Deixe somente as swatches que estão sendo utilizadas no arquivo.
- Caso esteja utilizado o InDesign para o seu trabalho, faça uma checagem utilizando o Preflight, assim você se certificará de que não deixou nada passar batido.
- Trabalhe com estilos de caracteres e paragráfos, isso ajudará caso o cliente peça inesperadamente para aumentar, diminuir, trocar as cores ou até mesmo as fontes de todos os textos.
Um trabalho bem feito evita uma série de problemas, então fique atento a todos os detalhes. Espero que tenham gostado do artigo, até o próximo.